terça-feira, 30 de outubro de 2007

AUTO-AVALIAÇÃO

Sendo o exercício da auto-avaliação um processo de aprendizagem e de transformação, e partindo da premissa da palavra “INOVAÇÃO”, com sendo tornar novo, renovar, que se traduz pelo ato de inovar, é que a Disciplina DIDÁTICA para o ensino superior me fez pensar e repensar a minha vida como pessoa e como profissional, consciente de que somos seres em constantes transformações. Por tudo isso, parabenizo a turma, e principalmente a Professora pela forma que conduziu essa disciplina com o profissionalismo de sempre e com o amor estampado em seu semblante. Por fim deixo aqui registro meu muito obrigado, e que Deus continue te iluminando sempre.
CLEUBER

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A EDUCACAO ESPECIAL FRENTE AS NOVAS TECNOLOGIAS

A EDUCACAO ESPECIAL FRENTE AS NOVAS TECNOLOGIAS

O artigo trata a questão da Informática Educativa e sua aplicabilidade no campo da Educação Especial. É apresentada uma visão Psicopedagógica da informática na Educação dos portadores de necessidades educativas especiais, destacando-se as vantagens da utilização do computador na prática pedagógica, tendo esta uma política de inclusão ou não.

Finalmente, o artigo aponta experiências desenvolvidas no Brasil com a informática educativa no cotidiano escolar do portador de necessidades educativas especiais., apresentando experiências com portadores de paralisia cerebral, surdos, cegos e autistas.

Palavras-chave: Informática/ Educação/ Portador de necessidades educativas especiais/Educação Especia/Inclusão.

Angela Carrancho da Silva - Doutoranda em Educação - UNICAMP

Mestre em Educação - UFRJ

Assistente da Divisão de Midia Educação da Secretaria Municipal de Educação

do Rio de Janeiro

Professora da Faculdade de Educação da UERJ

Coordenadora do Programa de Pos-graduação em Informática aplicada a

Educação das Faculdades Integradas SIMONSEN



Angela Carrancho da Silva

Doutoranda em Educação - UNICAMP

O número estimado de pessoas portadoras de necessidades educativas especiais no país equivale‚ a aproximadamente 10% da população (Oliveira,1983 ). No sentido de atender a esta clientela a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, através de seu Núcleo Curricular Básico MULTIEDUCAÇÃO, propõe respeito à diversidade ao frisar que a escola deve ser um grande espaço social, um lugar onde a ousadia, a criatividade, os sonhos, assim como as diferentes falas se tornem uma rotina no cotidiano escolar.

A criança portadora de necessidades especiais, antes de ser "especial", é uma criança com todos os direitos do ser humano na fase de seu desenvolvimento. Portanto, a "especialidade" ou "excepcionalidade" vem em segundo plano. Todavia, é preciso lembrar que se trata de uma criança diferente, e isto exige que pais, educadores e a sociedade, como um todo, se ajustem à sua diferença.

Por outro lado, a educação fundamentada na "ação e reflexão como constituintes inseparáveis da práxis, condicionadas pela realidade em que está o Homem" (Freire,1979. p.17) não pode mais continuar alijando a informática do processo ensino-aprendizagem. O cidadão deste final de século está rodeado pelos computadores, portanto, cabe à educação incorporar este instrumento ao seu cotidiano, para que, desta forma, possa contribuir para facilitar a vida do homem em seu meio social. Neste sentido, o processo de desenvolvimento da criança portadora de necessidades educativas especiais, não mais que as outras, necessita incorporar as novas tecnologias, sobretudo a informática.

A informática e a Educação

O ambiente sócio-cultural do indivíduo, neste final de século, é rodeado pela informática nas mais diversas situações do seu cotidiano. A educação e a escola, que visam à formação integral deste indivíduo, precisam explorar, o melhor possível, esta ferramenta. Não há mais possibilidade de se ignorar a presença do computador na sociedade moderna. É necessário que se prepare o aluno, seja especial ou não, para cada vez mais conviver com a informatização, presente na sua rotina diária.

Entretanto, é necessário que não se supervalorize esta ferramenta. Como afirma Papert (1988) "o computador por si mesmo não pode mudar os pressupostos existentes ... que separam o cientista do educador, o técnico do humanista... O computador aumentou os riscos, tanto para a nossa inação quanto para nossa superação dos pressupostos." É importante que se tenha em mente que o computador não fará o processo pedagógico acontecer de forma mais adequada, mas sim de um modo diferente. Não se pode esperar que o computador ofereça uma solução mágica para as obstruções encontradas nas relações aluno-professor. Os problemas educacionais não serão resolvidos através da inserção do computador em sala de aula.

Bastos et alii (1992) afirmam que "ao pensarmos na utilização de computadores na educação, devemos considerar a colaboração que a educação dá às reformas sociais e que a tecnologia é importante como meio para alcançar estes fins, não indicando finalidades e valores norteadores para seus usuários. E estes usuários é que se utilizarão dela para veicular finalidades e valores adequados à sua realidade"(p.140).

Partindo do pressuposto que "aprender é fazer", o computador pode e deve ser visto como uma ferramenta cognitiva que pode facilitar a estruturação do trabalho, viabilizando a descoberta, oferecendo condições propícias para a construção do conhecimento.

A psicopedagogia tenta operar sobre o indivíduo com a finalidade de proporcionar o seu auto-conhecimento, a dissolução das interferências e o vínculo com a realidade. Mais uma vez destaca-se a importância do meio neste processo, portanto, se o mesmo é informatizado, não se deve negar a existência de uma ferramenta que pode se tornar de extrema valia no processo de aprendizagem - o computador.

O computador é um dado real e a escola vai ter que encará-lo. É preciso que a educação o veja como uma máquina que pode trabalhar a seu favor e não contra ela. Embora o computador não seja ainda uma presença física na totalidade das escolas brasileiras, sua presença já faz parte das salas de aula, através das brincadeiras, dos jogos eletrônicos, dos heróis, das máquinas calculadoras, enfim do imaginário das crianças, sejam elas especiais ou não.

Em suma, o homem visto através de uma ótica holística não pode ser dicotomizado do meio sócio-cultural onde está inserido, e, portanto, a inserção de um trabalho pedagógico apoiado no computador pode despertar na criança o interesse e a motivação pela descoberta do conhecimento, usando o mecanismo do aprender-fazendo. Torna-se necessário que os mediadores deste processo organizem suas metas partindo da realidade, das necessidades e dos interesses de sua clientela, tentando despertar o prazer pela descoberta, provocando a mudança de comportamento tão desejada por aqueles que pretendem a reestruturação da educação.

É necessário que as inovações pedagógicas não se concentrem em unidades que atendem a grupos já favorecidos apenas, e que se tenha em mente que a escola deve lidar com a formação de pensamento e de valores das gerações futuras. Gerações, estas que viverão numa sociedade em transformação contínua que exigirá, portanto, uma escola em transformação constante, que apresente currículos flexíveis e métodos participativos. A educação demandará maior criatividade, contexto, descoberta e estruturação do conhecimento. O ensino passa a ser centrado no aluno e o professor torna-se estimulador e coordenador.

Podemos concluir que na sociedade industrial nós fomos à escola e na era da informação, a escola vem a nós. Torna-se necessário que se crie no sistema de ensino a capacidade de alterar sua ação em função: (a) das diferenças individuais entre os alunos; (b) da resposta de um aluno a uma pergunta ou problema e (c) da ação de um aluno numa simulação.

Sob esta ótica, capacitar o indivíduo do próximo século demanda alfabetizá-lo em muitas linguagens, para tanto torna-se fundamental que cada unidade escolar desenvolva o seu próprio projeto pedagógico, adequando-o a sua clientela, e aqui é importante frisar que por clientela entende-se não somente o aluno, mas todos aqueles envolvidos na comunidade escolar. O currículo não mais pode ser uma camisa de força, na qual o professor se sinta atrelado a um programa específico, onde o programa é o centro do processo pedagógico, sendo ele o determinante de tudo. É importante frisar que a memorização atendia às demandas da sociedade industrial, porém não atenderá as demandas da Era da Informação.

A psicopedagogia vê o indivíduo como um todo, e, portanto, em pleno processo de construção do conhecimento. A aprendizagem se dá, então através da inter-relação do ser com o objeto, partindo, na maioria das vezes, do concreto para o abstrato. Dentro desta perspectiva, a aprendizagem pode acontecer mesmo antes do nascimento e se prolonga até a morte, sendo, portanto, um processo dinâmico, contínuo, global, pessoal, gradativo e cumulativo.

Nesta visão, o ser humano é um eterno aprendiz, uma vez que cada construção se transforma num produto estruturante para novas construções. O aparecimento de "insights" sucessivos viabiliza o processo de aquisição do conhecimento.

A Epistemologia Genética entende a aprendizagem como "uma construção complexa, na qual o que é recebido do objeto e o que é contribuição do sujeito estão indissoluvelmente ligados" (Piaget, 1974,p.34), entendendo-se que a aprendizagem depende do desenvolvimento, embora não se confunda com o mesmo. Piaget afirma que o desenvolvimento sempre se adianta ao aprendizado, que por sua vez não tem papel relevante no curso do desenvolvimento.

Vygotsky (1984), e também Papert (1960), aproximam-se desta opinião quando consideram que a aprendizagem tem com o desenvolvimento um comportamento dialético podendo orientar e estimular processos evolutivos internos desde que o indivíduo seja capaz de interagir com o seu meio ambiente sócio-cultural.

Considerando que o ambiente sócio-cultural do indivíduo neste final de século é rodeado pela informática nas mais diversas situações do nosso cotidiano, a educação e a escola que visam a formação integral deste indivíduo precisam explorar o melhor possível esta ferramenta. Não há mais como negar o computador na sociedade moderna.

Por todos estes motivos, não há como alijar-se o computador do processo educacional. Ao analisarmos o progresso da Informática, podemos concluir o quanto esta é uma ciência abrangente e dinâmica, uma vez que além de combinar aplicações de todas as áreas do conhecimento, seus usos são praticamente ilimitados. Estas características são de suma importância no campo da educação. A abrangência e o dinamismo podem fazer do computador um instrumento de extrema valia no processo educacional, tanto de crianças ditas normais quanto de crianças portadoras de necessidades especiais.

Em suma, a inserção de um trabalho pedagógico apoiado no computador pode despertar na criança, seja ela portadora de necessidades especiais ou não, o interesse e a motivação pela descoberta do conhecimento, a partir do mecanismo do aprender-fazendo. Torna-se necessário que os mediadores deste processo organizem suas metas partindo da realidade, das necessidades e dos interesses de sua clientela, tentando despertar o prazer pela descoberta, provocando a mudança de comportamento tão desejada por aqueles que pretendem a reestruturação da educação, ou seja, para aqueles que acreditam que o novo século exigirá novas condutas de ajuda mútua, muita flexibilidade e criatividade para responder questões que a sofisticação da sociedade da era da informação exigirá de seus cidadãos, e, entre eles, dos diferentes, ou seja, os portadores de necessidades educativas especiais. Principalmente, se entendermos como Vygotsky (1989) ao afirmar que a deficiência não é só impossibilidade, mas também é força. Nesta verdade psicológica se encontra o início e o fim da educação dos alunos com deficiência".

O COMPUTADOR E O PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS

A informática e o computador podem se tornar grandes aliados do portador de necessidades especiais. Entretanto, precisam ser encarados de forma realista e não como a panacéia para uma problemática, até hoje ainda sem solução.

Uma das vantagens da utilização do computador com uma clientela possuidora de especificidade tão distintas ‚ a instauração de uma situação de aprendizagem na qual não há riscos de bloqueios cognitivos em função de problemas emotivos ou de faltas na capacidade de relacionamento. Segundo Lolline (1991), como subsídio didático, o computador é um animal dócil e paciente. Diferentemente dos seres humanos, não se queixa, não grita e não castiga em caso de erro. O computador se apresenta como uma máquina que repete docilmente o trabalho, responde perguntas, cala-se ao mero comando de uma tecla e obviamente não provoca constrangimentos afetivos durante as situações de aprendizagem propostas.

Além de todos os aspectos já mencionados, o portador de necessidades especiais poder encontrar no computador um maior leque de opções do que as oferecidas pela escola. Pesquisas futuras poderão ratificar a hipótese que dentre os motivos que causam comportamentos alterados podem desaparecer quando o aluno trabalha com uma máquina que não perde a paciência, não julga e não o apressa. Esta máquina não tem como suspirar denotando impaciência, e acima de tudo, este aluno, já tão estigmatizado poder trabalhar e produzir sem o medo da nota ou da comparação, que de maneira geral, acontecem em situações de aprendizagem.



DEFICIÊNCIA AUDITIVA E COMPUTADOR

Vários especialistas em problemas cognitivos e lingüísticos de deficientes auditivos têm enfocado as relações entre algumas dificuldades cognitivas dos surdos e questões relativas ao desenvolvimento de suas características simbólico-verbais. Fernandes (1990), reportando-se a Myklebust (1964), afirma que as operações mentais mais afetadas pela surdez " são as que requerem facilidade simbólico verbal". Apesar da possibilidade do desenvolvimento de uma linguagem própria, o domínio desta linguagem não seria suficiente para que as crianças surdas pudessem suprir as várias necessidades relativas a ausências de um código simbólico-verbal específico como o usado por qualquer falante normal.

A interação do computador com o surdo poder representar um passo a frente no que diz respeito à educação, porém é preciso que se reconheça a necessidade da interdisciplinaridade para que se possa, de fato, criar e implementar programas que facilitem o aprendizado desta clientela que detém uma gama incrível de especificidades.

No Rio de Janeiro, há experiências no INES (Instituto Nacional de Surdos) que inserem no trabalho pedagógico a Linguagem LOGO. Além disso, pesquisas na área de informática e surdez vêm sendo desenvolvidas em várias Universidades brasileiras, tanto na área de produção de softwares educativos, quanto na área da engenharia Biomédica.

Um exemplo é a pesquisa de Doutorado de Silva desenvolvida na Unicamp, em parceria com a UERJ e UFRJ que pretende o desenvolvimento de um software educativo com o objetivo de facilitar o processo de alfabetização, tendo a língua de sinais como fio condutor.

DEFICIÊNCIA VISUAL E COMPUTADOR

Assim como o deficiente auditivo, o deficiente visual já pode utilizar o computador como uma ferramenta a mais em sua vida acadêmica. O sistema operacional DOSVOX, desenvolvido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade federal do Rio de Janeiro, sob a supervisão do analista José Antonio Borges, permite que pessoas cegas utilizem um microcomputador, através do uso de sintetizador de voz para desempenhar uma série de tarefas, adquirindo assim um alto nível de independência no estudo e trabalho.

Além do DOSVOX, os cegos também podem ter acesso a INTERNET através do DOSVOX/DISCAVOX que é um programa que permite o acesso à Internet através de uma linha telefônica e de um Fax Modem. Os textos vindos da Internet são sintetizados em fala na língua portuguesa, esta infraestrutura viabiliza ao cego a navegação pela rede, uma fonte quase inesgotável de cultura.

DEFICIÊNCIA FÍSICA E PARALISIA CEREBRAL E COMPUTADOR

Segundo Henrriques (1990), a terminologia mais correta para definir este quadro seria Encefalopatia Crônica da Infância. Encefalopatia porque a lesão ‚ de toda a massa encefálica que está contida no crânio; crônica porque persiste por toda a vida e da infância porque pode se apresentar desde o nascimento até‚ os três anos de idade.

Em função da desinformação sobre o que é a paralisia cerebral, o portador desta deficiência é, muitas vezes, tratado como portador de deficiência mental e/ou física. A paralisia cerebral atinge áreas do cérebro responsáveis pelo movimento e equilíbrio das pessoas, podendo ainda provocar alterações de fala, audição, fala, visão, percepção, comportamento, além de crises convulsivas e deficiência mental. Deste modo, os portadores de paralisia cerebral podem apresentar alterações neuro-musculares que se evidenciam por um quadro de espasticidade (rigidez) ou por um quadro de hipotonia (flacidez), com movimentos descoordenados, com dificuldade de pegar objetos, falta de equilíbrio e, às vezes, com outros distúrbios associados como cegueira, surdez, deficiência mental, etc.. Todo este quadro clínico ‚ variável e diverso e deve-se a uma lesão do encéfalo, antes, durante e/ou após o parto, provocada por infecções como menigite, encefalite, distúrbios respiratórios graves, traumatismos, desnutrição, etc.

A informática parece ter caminhado bem mais rapidamente na área da medicina do que na área educacional, no que se refere à reabilitação e a facilitação da vida social do deficiente físico e do portador de paralisia cerebral. Entretanto, pode-se, também, inferir que esta clientela em muito se beneficia, no campo educacional, com a inserção do computador em sua vida escolar.

Crianças com dificuldade de pegar um lápis devido a paralisias podem utilizar o teclado, seja para escrever, desenhar ou colorir, e, com o computador, a produção e ilustração de textos torna-se mais estética. Além disso, para os portadores de problemas motores o desenho é quase sempre tarefa muito árdua. Ilustrar um texto com o ferramental disponível no computador para aqueles portadores desta dificuldade torna-se um feito artístico e estético.

Para o portador de paralisia cerebral a experiência educativa com o computador significa a oportunidade de desenvolver atividades desafiantes tanto no campo educacional quanto no de diagnóstico. Além disso, a grande maioria das experiências demonstram que o trabalho pedagógico apoiado pela informática propicia uma compreensão mais profunda da capacidade intelectual da criança por sobrepujar a deficiência ao ser capaz de uma produção mais estética.

No Brasil, várias universidades públicas (UFRJ/UERJ/UNICAMP/UFRGS) desenvolvem pesquisa nesta área. Também, algumas secretarias de educação já possuem programas de informática aplicada à educação específicos para esta clientela, entre elas, podemos citar a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.

AUTISMO

É necessário frisar que estas crianças possuem um perfil bastante idiossincrásico, o que em muito dificulta o processo pedagógico. Embora haja uma grande dificuldade em se obter diagnósticos precisos, vale ressaltar que estas crianças costumam apresentar algumas e até muitas das seguintes características: (a) não se misturam com outras crianças; (b) agem como se fossem surdas; (c) resistem ao aprendizado; (d) não demostram medo de perigos reais; (e) resistem a mudanças de rotina; (f) usam pessoas como ferramentas; (f) têm risos e movimentos não apropriados; (g) resistem ao contato físico; (h) têm acentuada hiperatividade física; (i) não mantém contato visual; (j) têm apego não apropriado a objetos; (k) giram objetos de maneira bizarra e peculiar; (l) as vezes são agressivos e destrutivos; e (m) apresentam modo e comportamento indiferente e arredio.

A idiossincrasia comportamental dos portadores desta Síndrome têm, sistematicamente, os afastado dos bancos escolares. A impossibilidade de relação com o meio-ambiente torna o autista um cidadão alijado do processo educacional.

A fortaleza intransponível refletida pelo mundo autista poder encontrar no computador um aliado. Algumas experiências apontam para a possibilidade de integração entre estas crianças e a máquina. O computador abre, assim, uma porta de entrada para este mundo tão desconhecido. Serão necessários, ainda, muitos anos de tentativas para que se obtenham respostas.

Por todos estes motivos não há como se alijar o computador do processo ensino-aprendizagem. Ao analisarmos o progresso da Informática, podemos concluir o quanto esta é uma ciência abrangente e dinâmica, uma vez que, além de combinar aplicações de todas as áreas do conhecimento, seus usos são praticamente ilimitados.

Para finalizar, é fundamental que se ressalte que cada indivíduo portador de necessidades educativas especiais é um universo ainda muito desconhecido para aqueles que organizam e implementam programas educacionais; se faz necessário uma abordagem multidisciplinar/interdisciplinar e muita humildade para admitir que ou muito pouco se conhece no campo das necessidades educativas especiais.

Os resultados destas experiências apontam tanto para a possibilidade de inclusão do portador de necessidades educativas especiais em turmas regulares, quanto para a inesgotável possibilidade de uso da informática no cotidiano escolar. Entretanto, vale ressaltar que tanto a inclusão do portador de necessidades educativas especiais quanto a inserção de novas tecnologias no cotidiano escolar vão depender da instrumentalização do professor para resgatar a intencionalidade de sua prática, a dimensão social da mesma e fundamentalmente uma tomada de consciência de seu próprio fazer pedagógico.

Vale a pena reiterar que a mera inserção de novas tecnologias no cotidiano escolar não garantirá a melhoria da qualidade de ensino, assim como a mera " inserção" do portador de necessidades educativas especiais em escolas regulares não garantirá uma presente e certamente futura exclusão social desta clientela.



Inclusão x Inserção

A Lei de Diretrizes e Bases de 1996 aponta para a inclusão em escolares regulares do portador de necessidades educativas especiais, mas, também, assegura o atendimento educacional em classes, escolas ou serviços especializados sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. (LDB,1996).

A inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais no sistema regular de ensino é possível desde que sejam considerados, entre outros, alguns dos seguintes aspectos: (a) grau de comprometimento das crianças especiais a serem inseridas em turmas regulares; (b) atendimento multidisciplinar; (c) preparação dos profissionais de ensino; (d) condições físicas das escolas; (e) número de crianças por turma; (f) recursos materiais; (g) visão interdisciplinar do currículo.

Segregar crianças severamente comprometidas para um atendimento mais individualizado na primeira infância pode se tornar um fator de integração social futura; além disso, há crianças que dificilmente serão incluídas no processo educacional regular em função de sua atipicidade comportamental o que demandará da educação especial a busca de alternativas educacionais específicas para esta ou aquela forma de atendimento.

A inclusão/integração não é, portanto, uma panacéia a ser aplicada indistintamente em toda e qualquer criança. A escola precisa saber o seu potencial de atuação para que não se comporte de forma demagógica com relação a estas crianças.

A mera inserção de crianças portadoras de necessidades educativas especiais em turmas/ escolas regulares não garante a inclusão, de fato, destas crianças no processo educacional. É necessário que não se paralise frente as diferenças, mas também torna-se fundamental que se redesenhe o papel da escola. Para tanto, o respeito às diferenças e às diferentes falas devem estar presentes no cotidiano escolar. Inserir todos estes aspectos na prática pedagógica demandará do educador uma postura crítica frente a inclusão destas crianças, assim como exigirá do educador a intencionalidade de sua prática. Incluir significa muito mais do que inserir. Não podemos mais ser reféns de posturas ideológicas que em muito pouco contribuem para a qualidade da educação. Incluir - sim - sempre que for possível, incluir, sim, sempre que esta inclusão signifique melhoria da qualidade de vida do indivíduo e, desta forma, contribua para a sua real inclusão social, garantindo-lhe sua cidadania plena.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bastos, Rangel, César, A., Soares Ramalho,E.&Gonçalves Magalhães,K. Informática integrada a uma proposta curricular.Trabalho apresentado no Encontro Brasil-França. Informática na Educação, R.J.,1993.

Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases,1996.

Freire, Paulo. Educação como prática da liberdade. RJ. Paz e Terra,1967.

Fróes,J.R. O computador como suporte do processo simbólico na educação do deficiente auditivo. Projeto apresentado no INES, 1990.

Henriques, Vera Lúcia. Paralisia Cerebral in Ótica e legislação: os direitos das pessoas portadoras de deficiência no Brasil. RJ.: Rotary Club,1990.

Lollini, Paolo. Didática & Computador. São Paulo,Loyola,1991.

Mazzota, Marcos. Política Nacional de Educação Especial. CADERNO CEDES, 1989.

Oliveira, lvaro. A criança excepcional - causas e consequências. Pró-Criança, Separata Informativo, Florianópolis, s/d.

Papert, Seymour. LOGO: computadores e educação. S.P. Brasiliense,1985.

Piaget, Jean. O estruturalismo. S.P Difusão Européia do Livro, 1970.

Piaget,Jean. O nascimento da inteligência na criança.R.J.Guanabara,1987.

Pichon,Rivière. Del psicoanálisis a s psicología social. Buenos Aires,Galerna 1971.

Vygostsky, L. S. Pensamento e linguagem. Lisboa,Antidoto,1979.

Vygostsky,L.S. A formação social da mente. S.P. Martins Fontes,1984.

Fonte: http://www.niee.ufrgs.br/Icieep/ponencias/dos-6.htm

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Pedagogia da Autonomia:saberes necessários à pratica educativa

O texto elaborado trata-se de uma breve síntese a cerca da obra de Paulo Freire intitulada Pedagogia da Autonomia Saberes necessários à pratica educativa, trabalhado com o rigor metodológico necessário, numa ética pedagógica e uma visão de mundo alicerçadas em rigorosidade, pesquisa, criticidade, risco, humildade, bom senso, tolerância, alegria, curiosidade, esperança, competência, generosidade, disponibilidade e esperança. Tal análise se faz dentro e fora da sala de aula, cujo foco principal é o “Professor”.
A obra do autor se desdobra em três partes: Na primeira: Não há docência sem discência; na segunda parte: Ensinar não é transferir conhecimentos; e na terceira parte: Ensinar é uma especificidade humana, embasado pela dialética.
Na primeira diz que “ninguém ensina sem aprender e ninguém aprende sem ensinar” e que é um processo constante na relação ensino aprendizagem.
Já na segunda parte Ele menciona que "Ensinar exige bom senso", humildade, tolerância, paciência, troca de conhecimento, respeitando a autonomia de cada um.
Por ultimo assevera que não basta apenas que se percebam os problemas da educação, mas que o educador tenha otimismo e força de vontade para resolvê-los. Para que isso ocorra os profissionais da educação devem levar na bagagem componente indispensáveis a orientá-los para uma nova rota em prol da educação verdadeira, tais como: competência profissional, respeito pelos saberes do educando e o reconhecimento da identidade cultural, rejeição de toda e qualquer forma de discriminação, reflexão crítica da prática pedagógica, corporeificação, saber dialogar e escutar, querer bem aos educandos, ter alegria e esperança, ter liberdade e autoridade, ter curiosidade,ter a consciência do inacabado. Mostra a necessidade de segurança, do conhecimento e da generosidade do educador para que tenha competência, autoridade e liberdade na condução de suas aulas. Defende a necessidade de exercermos nossa autoridade docente com a segurança fundada na competência profissional, aliada à generosidade.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

VIGIAR E PUNIR: EDUCAÇÃO E PARADIGMAS DE ÉPOCA

VIGIAR E PUNIR: EDUCAÇÃO E PARADIGMAS DE ÉPOCA

Por Elias Celso Galvêas

Neste capítulo I, do livro “Vigiar e Punir”, Foucault discorre sobre disciplina e obediência, enfatizando diferentes tipos de organização para alcançar os melhores resultados. Ele compara, no tempo, as metodologias educativas prevalecentes nos séculos XVII e XVIII.
De um modo geral, Foucault examina quatro segmentos diferentes, que são estudados “nos mínimos detalhes”, como ele mesmo ressalta. Estes segmentos são: as corporações militares; as instituições escolares; as fábricas; e as ordens religiosas.
O título deste primeiro capítulo é: “Os Corpos Dóceis”, significando o tipo de organização que, através de sua estrutura disciplinar, transforma - não só o indivíduo como a coletividade – em elementos que, forjados na rigidez disciplinar, tornam-se dóceis e prontamente obedientes ao comando, dentro de uma sociedade extremamente autoritária, controladora e claramente hierarquizada.
Apesar de seu caráter eminentemente descritivo e informativo, onde Foucault procura demonstrar imparcialidade em relação ao que descreve, seu texto pode ser pensado, atualmente, como uma severa crítica à utilização indiscriminada da educação como mero instrumento de reprodução de condições sociais, políticas, econômicas, culturais e organizacionais, que visam à geração de um estado cego e total de controle entre os membros da mesma, objetivando, com isto, a sua sobrevivência e perpetuação, seja ela boa, justa, humana - ou não.
Este modelo de sociedade e seu tipo de educação acabou gerando mais problemas do que soluções, mais infelicidade do que felicidade, mais desequilíbrio do que equilíbrio, enfim, mais neurose do que conhecimento. Estes tipos de sociedades - geradas e representadas por seus respectivos modelos de educação – acabaram por desembocar nos dois mais violentos e sangrentos conflitos históricos da humanidade: as 1ª e 2ª Grandes Guerras Mundiais.
Ao começar pela formação dos soldados e dos exércitos, Foucault observa que a formação física do homem desempenha uma função muito importante. O soldado é selecionado e treinado para ter uma postura inflexível e atlética, ereta, cabeça erguida e peito saliente, de modo a infundir a idéia de um ser bem produzido, forte e capaz.
Paralelamente, o exército é disposto em regimentos e divisões com uma nítida hierarquia de comando, capaz de vigiar a execução das instruções, bem como impôr-se pela força da disciplina. Este modelo de educação militar, arbitrária e autoritária e que prepara os homens para a "guerra", foi, portanto, copiado e transferido para diversas outras instituições sociais, tais como: a escola, a Igreja, a fábrica, a família, etc.
No início do século XVII, diz Foucault, a idéia é que o soldado é, naturalmente, um indivíduo rigoroso, que se destaca pela coragem e pela postura. A seleção é um processo simples de escolha dos indivíduos portadores das qualidades que definem a figura ideal do soldado, ou seja, o modelo de homem poderoso e viril que todo membro da sociedade deveria seguir – ou, ao menos, ter em mente.
A partir da metade do século XVIII, o soldado passou a ser algo fabricado. Inicialmente, ele pode ser um corpo inapto, mas será devidamente treinado e preparado através de exercícios para tornar-se uma máquina, com a postura que se deseja impôr, com a completa fisionomia do soldado.
Em termos de educação da época, são múltiplas e variadas as disciplinas impostas nos exércitos, nas escolas, nos conventos e nas fábricas. Mas, de um modo geral, o elemento básico visa a distribuição hierárquica dos indivíduos dentro do espaço social. E o sistema é o sistema do quadriculamento, onde cada um se define pelo lugar que ocupa na série.
No contexto destas estruturas, a organização e a disciplina nos colégios assemelham-se a dos conventos, o mesmo que nas fábricas. Prevalece o princípio da “clausura”, ou seja, dos grupamentos distribuídos em locais específicos, com reconhecida distribuição geográfica, de acordo com as regras de “localização funcionais”, que facilita o sistema de vigilância e controle mútuos entre os indivíduos.
Numa Europa do século XVII e XVIII, nos primórdios da Revolução Industrial, onde os países começavam a vivenciar uma permanente competição na procura e conquista de mercados capazes de permitir o escoamento de sua produção para o mundo, era natural que o homem vivesse em estado de beligerância crônica e, por isto, todos deviam ser como soldados em alerta contra prováveis conflitos, ou prováveis invasões inimigas. A educação, portanto, servia para formar (ou forjar) estes "soldados” obedientes" que, por sua vez, estariam "preparados" - no contexto da concepção de "preparo" da época - para atuarem prontamente nos seus mais variados setores.

O Controle das atividades
Segundo Foucault, o controle das atividades, nesta época, baseava-se em cinco princípios fundamentais:

1. o horário, não só pela observância restrita das horas de entrada e saída, como também a utilização integral do tempo útil, ou seja, a proibição de que não haja distrações e perda de tempo, com interrupções que prejudiquem a continuidade do trabalho;
2. a elaboração temporal do ato, significando o ritmo coletivo e obrigatório;
3. o corpo e o gesto colocados em correlação, ou seja, o total controle das disciplinas para que nada fique ocioso ou inútil, objetivando o alcance das melhores condições de eficácia e rapidez;
4. a articulação corpo-objeto, com o sentido de disciplinar cada uma das posições que o corpo deve manter com o objeto que manipula;
5. a utilização exaustiva significando que é proibido perder tempo.


A escola de Gobelins
O édito real que criou a “Fábrica dos Gobelins”, em 1667, na Inglaterra, que previa a organização de uma escola em que sessenta crianças selecionadas como bolsistas seriam confiadas a um mestre, a fim de adquirir educação básica. Daí, as crianças passavam ao ciclo de aprendizagem, junto aos mestres da corporação manufatureira e, após seis anos de intensa aprendizagem, adquirem o direito de abrir uma própria loja.
No campo educacional, em relação ao ensino primário, Foucault assinala a prevalência do “Método Lancaster”, no período que vai do século XVIII, até o princípio do século XIX. É o método da escola mútua, segundo o qual se confiava aos alunos mais velhos tarefas simples de fiscalização, depois de controle do trabalho e, por fim, de ensino, isto é, assumiam papel de professores. Assim, os estudantes passavam todo o tempo ocupados - seja aprendendo, seja ensinando.


Educação Clássica e Contemporânea: Mudanças de paradigmas
Atualmente, no campo educacional, nós, homens do novo milênio, estamos passando por um momento de profundas turbulência e transição. Em linhas gerais, isto se deve ao simples fato de que tudo aquilo que servia para a educação do homem dos séculos passados, parecem não mais servir ao homem de hoje.
Os séculos XVII, XVIII, XIX, e boa parte do século XX, caracterizaram-se pela intensa construção das sociedades burocráticas e industriais, onde a educação - aqui descrita por Foucault - vigorava a todo vapor, formando (ou melhor, forjando) o tipo de homem que, com todas as suas peculiaridades, servia ao contexto daquela época específica.
Nos dias de hoje, a impressão que temos é de que a educação parece ter perdido o rumo, posto que sofre uma profunda transição que exige de seus métodos, mentalidade e posturas, mudanças radicais que, por sua vez, se caracterizam por uma total ruptura com os paradigmas da velha educação clássica, burocrática e industrial.
Na verdade, no Brasil, já temos alguma noção do que deve ser feito, mas ainda não sabemos exatamente como educar o homem para a "Era da Informação" que, cada vez mais evidente, emerge em nosso horizonte. Diferentemente dos países do primeiro mundo que lideram as mudanças, o Brasil, como país periférico em desenvolvimento, ainda sofre devido às radicais e profundas transições impostas pelas novas necessidades da Era da Informação.
Assim, nossa mentalidade, modo de pensar, nossas relações sociais, econômicas, políticas e culturais, enfim, nossa maneira de educar, como um todo, ainda se encontra bastante impregnada com nítidas características das sociedades burocráticas industriais do passado, sendo que, no presente momento, esforçamo-nos para realizar esta nossa transição da melhor maneira possível.
Quanto ao trabalho descritivo de Foucault, seria sensato observar que, nos dias atuais, nem mesmo os exércitos poderiam ser educados da forma por ele descrita em seu livro, posto que atualmente lidam com tecnologias de última geração, capazes, por sua vez, de substituir a primitiva força física do velho soldado lanceiro. Desta forma, diferentemente de outras épocas onde a força física era imperativa, mesmo a educação militar precisa, hoje em dia, da formação de um forte e bem formados capital intelectual.
Ademais, também é preciso levar em consideração a enorme plasticidade inerente ao ato de educar, ou seja, as infinitas possibilidades teóricas e metodológicas que, com o acúmulo das experiências educativas, encontra-se, hoje, à disposição dos educadores – possibilidades estas que, por sua vez, são utilizadas de diferentes maneiras, caracterizando, assim, diferentes contextos de época e gerando, conseqüentemente, através do tempo, diferentes tipos de homem e sociedades.
Desta forma, seguindo esta linha de pensamento, poder-se-ia observar que o modelo de educação adequado para um soldado ou um estudante do século XVIII, pode ser mostrar totalmente inadequado – a estas mesmas categorias - alguns séculos mais tarde. Como diria Heráclito, tudo está em permanente transformação, sendo impossível se mergulhar no mesmo rio duas vezes. Portanto, generalizando a teoria da plasticidade educativa, o que é bom para uma sociedade em determinado estágio de sua evolução, pode representar a sua ruína se aplicada em outros contextos de época.
Da mesma forma, qualquer educador que defendesse as idéias descritas por Foucault em seu livro, no contexto histórico e social dos séculos XVII e XVIII, seria muito bem aceito e interpretado, recebendo o apoio da sociedade da época – que, para sobreviver, precisava educar aquele tipo específico de homem. Por outro lado, esta mesma educação - descrita por Foucault - mostrar-se-ia inadequada para a época atual, e seria profundamente criticada por todos os educadores modernos, pois o material humano que precisamos gerar – a fim de manter as sociedades de hoje – apresenta, com certeza, características diametralmente opostas em relação àquele capaz de manter as sociedades geridas pelas gerações passadas.

Referência Bibliográfica

- Foucault, Michel. “Vigiar e Punir”, Editora Vozes, 1999.
- Burns, McNall Edward. “História da Civilização Ocidental”, Volume II, Editora Globo, 1980.
- Galvêas, Elias Celso. “A Atual Necessidade de Convergência dos Saberes Humano”. Jornal de Bairros, suplemento das 5ª feiras do Jornal O Globo, em 30/06/2005.



http://www.scribd.com/doc/259146/Vigiar-e-Punir-Educacao-e-Paradigmas-da-Epoca

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

É o Ministério que cuida das políticas públicas de Educação de todo País, representado pela áreas abaixo descritas:
Educação Superior Ensino de Pós-Graduação Educação Profissional e Tecnológica Educação Básica Educação a Distância Educação Especial Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos Educação do Campo, Indígena e Ambiental Diversidade e Inclusão Educacional Avaliações e Censo Educacional Legislação Educacional Relações Internacionais

1. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
2. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
3. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
4. Conselho Nacional de Educação
5. Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior
6. Instituto Benjamin Constant
7. Instituto Nacional de Educação de Surdos
8. Fundação Joaquim Nabuco

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Conselho Técnico Científico da Capes avalia cursos

01/10/2007 18:50:38
Os resultados da Avaliação Trienal 2007 começaram a ser analisados nesta segunda-feira, 1º, em Brasília, pelo Conselho Técnico Científico da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC). A homologação dos resultados deverá ser feita até sexta-feira, 5. Após a divulgação dos resultados, prevista para a próxima semana, as instituições terão prazo de 30 dias para entrar com pedidos de recurso.



Conselho Técnico Científico da Capes avalia c...
Na abertura do encontro, o presidente da Capes, Jorge Guimarães, destacou que a pós-graduação tem uma demanda enorme no Brasil e uma possibilidade de equacionar muitos dos problemas enfrentados pelo país. Entre as metas para 2008, o presidente da Capes destacou a realização de uma avaliação internacional. “Vamos procurar trazer especialistas de outros países para visitarem as instituições brasileiras que possuem cursos com os conceitos mais altos — 6 e 7, em todas as áreas. Essas visitas serão feitas por amostragem, já que há um número muito grande de cursos a ser visitado.”

O processo de avaliação teve início em agosto. Cerca de 700 consultores de todas as áreas do conhecimento avaliaram o desempenho de mais de 3.400 cursos de mestrado e doutorado, relativo ao período de 2004 a 2006. Os conceitos atribuídos pela avaliação vão de 1 a 7. Os conceitos 1 e 2 são considerados insuficientes e implicam na desativação do curso. Os conceitos de 3 a 5 correspondem aos atributos regular, bom e muito bom, respectivamente. O 6 e o 7 demonstram excelência em nível internacional e podem ser atribuídos apenas a programas que tenham doutorado.

Fátima Schenini

fonte: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=9145

Pessoas que marcam.

"Há pessoas que nos falam e nem escutamos; há pessoas que nos ferem
e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em
nossa vida e nos marcam para sempre". ( Cecília Meireles)
Numa das aulas nos foi perguntado sobre algum professor que nos marcaram enquanto estudante, e eu me lembrei do Professor de OSPB que tinha atitudes anti-didáticas.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O SORRISO DE MONALISA

No filme "O Sorriso de Monalisa" está retratada – acredito que fielmente – a realidade americana do trabalho docente feminino na década de 50. Em meio a momentos cômicos, épicos e dramáticos, ele apresenta situações em que a disciplina de arte tinha o mesmo peso que a de prendas domésticas, matéria obrigatória, para as meninas, naquela época.
A história contada no filme é a de uma professora feminista, Katherine Watson, que foi contratada para dar aulas de História da Arte num bem conceituado e tradicional colégio de moças, o Wellesley College, na Nova Inglaterra, após deixar o Estado da Califórnia onde residia, alcançando um sonho profissional.
Katherine Watson esperava ali encontrar as alunas mais inteligentes e brilhantes dos EUA. No entanto, ela se vê entre as meninas mais inteligentes sim, mas desprovidas de qualquer pretensão profissional. São alunas preocupadas apenas em casarem-se, constituírem família, serem boas esposas e mães, terem filhos e pronto! A professora, então, tenta incentivá-las, apesar de ir contra todas as convenções escolares e sociais vigentes – já que a Wellesley era uma escola tradicionalíssima –, a serem mais do que "boas esposas", e toma a iniciativa, inclusive, de matricular uma delas num curso de Direito, pois esta aluna havia confidenciado a ela o desejo de estudar este curso. Com esta atitude o que a mestra consegue é a antipatia de algumas das meninas.
Neste colégio reina o autoritarismo, com suas regras e seus métodos, tanto de conduta quanto de ensino, totalmente pré-definidos.
Embora o filme decorra dos anos 50, seu contexto será sempre atual, pois aborda um tempo que realmente existiu, ainda parece existir e não pode ser esquecido – que, infelizmente, temos esbarrado nele camufladamente em algumas várias instituições escolares. Ele enfatiza, de uma forma clássica e bela, o papel para o qual a mulher nasceu para desempenhar, segundo os padrões da época, limitando-a ao sagrado matrimônio, casa, marido e filhos. Ensina, ainda, como iniciou-se a luta feminina pelo seu querer, pela conquista do seu espaço numa sociedade até então inteiramente machista, mesmo que para isso alguns tabus fossem violados. E, finalmente, como se pode notar, é um filme crítico à rigidez social dominante do início do séc. XX e, considero, imperdível para se entender um pouco da trajetória histórica do trabalho docente até aquele momento.
Apesar de ter forte semelhança com o filme "SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS", mostrou duas tendências pedagógicas: Tradicional e Progressista.

A tendência tradicional predominou no papel da escola, da família e na concepção de educação, onde a preparação intelectual e moral dos alunos era para assumir seu papel na sociedade, acumulados através dos tempos e repassados aos alunos como verdades absolutas.
Já a tendência progressista esteve presente na figura da professora, que serviu de inspiração para suas alunas, após decidir lutar contra normas conservadoras da escola em que trabalhava, na tentativa de abrir a mente de suas alunas para um pensamento liberal, enfrentando a administração da instituição e até mesmo de algumas alunas. Ela também estava imbuída da idéia de que através de suas aulas era possível dar maior autonomia e preparo para que suas alunas enfrentem o mundo, entretanto, muito mais que uma profissional em busca de renovação em seu trabalho pedagógico, ela era o protótipo da mulher moderna, livre, desimpedida e que queria quebrar as barreiras do mundo machista em que vivia.
Demonstrou ainda:
- CADA OLHAR TEM UMA PECULIARIDADE.
- A REALIDADE PODE SER VISTA DE VÁRIOS PONTOS DE VISTA, E NÃO A VISTA DE UM PONTO.
- COMPLEXIDADE DO SER HUMANO.
- OS SENTIMENTOS ENVOLVIDOS.
Portanto, ser educador/professor significa muito mais que ensinar, pois essa missão está intrinsecamente ligada ao dom , vontade, persistência e amor a profissão.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Frase do Dia

“Se planejamos para um ano, devemos plantar cereais. Se planejamos para uma década, devemos plantar árvores. Se planejamos para uma vida toda, devemos educar e treinar o homem” (autor desconhecido).

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias

Apresentação

"Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos" (Carl Rogers)

Educar é colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizações - transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos.

Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção.

De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo

Na educação - nas organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação.






Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes

Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial ou escolar - quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo.

Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos ajudarão muito, principalmente as telemáticas.

Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida.

A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los.

Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida verdadeiramente.

Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico, mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador, mais amplo em todas as dimensões.

Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal.

O professor é um facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos previstos socialmente.

O aluno não é unicamente nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem. Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação.

Se temos que trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no fim deste processo podemos julgar negativamente - reprovar o outro. É cômodo para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa.

Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos estimulam, colaboram mais facilmente.

Outros alunos, no início do curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí torna-se fácil ensinar.

Existem outros que não estão prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar, colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível, avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada do que pela imposição.





Transformar a aula em pesquisa e comunicação

Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal, audiovisual - o aluno - às vezes individualmente e outras em pequenos grupos - procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema..

Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente.

Uma parte da pesquisa pode ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona.

Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição pelo professor ou indicados em sites da Internet).

Os alunos levam para casa os textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade.

Essa pesquisa é comunicada em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta, onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós.

Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa individual ou projetos de grupo. Cada aluno -pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na Internet.

É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos - professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento.





Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?

Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias.







Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula?

Como regra geral, no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar, relacionar o tema com os demais.

Vale a pena encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o professor.

Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes a distância.

O conceito de curso, de aula também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados, incentivados pelo professor.

Poderemos também oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil contratar.





Educar o educador

De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo.

Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta.

Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas.

As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos.

Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas.

Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses.

O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos.

As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem.

As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação.

As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professor-educador.

Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudá-los melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas.





Educação para a autonomia e para a cooperação

A educação avança pouco - nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o quanto eles e seus alunos podem realizar!.

Um dos eixos das mudanças na educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo - os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos.

Sei que parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias.

Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno.

É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto.

Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades específicas de cada um.

O caminho para a autonomia acontece combinando equilibradamente a interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença.

A tecnologia nos propicia interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não como distração ou fuga.

O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses.





Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet

Venho desenvolvendo algumas experiências no ensino de graduação e de pós-graduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de pós-graduação - Redes eletrônicas na Educação e Novas Tecnologias para uma Nova Educação - e três de graduação - Novas Fronteiras da Televisão, Legislação e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre, cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet.

Disponho de duas salas de aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional.

O fato de ver o seu nome na Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo com eles algumas atividades.

Começamos com uma aula introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o seu e mail pessoal (na própria universidade ou em sites que oferecem endereços eletrônicos gratuitamente).

Num segundo momento, todos pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões anteriores, em livros e revistas.

O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente, cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona, relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas pesquisas para colocá-los na minha página.

Além das aulas, acontece um estimulante processo de comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail, envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos próprios alunos.

A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto. Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente selecionada, pesquisada.

Ensinar utilizando a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem.

Creio que isso se deve a uma primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las, compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial, rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, vídeo e televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de grande valor.

A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua.

O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no conjunto, a cooperação prevalece.

A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa.

Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando texto e imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos. Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou jovens.

Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo dos projetos.





Alguns problemas no uso da Internet na educação

Há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói.

Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar "brincando" de aula...

Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante, significativo.

Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais importantes, de lado.





Conclusão

Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente,- no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados.

Tanto nos cursos convencionais como nos a distância teremos que aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e valores onde se fizer necessário.

É importante sermos professores-educadores com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação.

Necessitamos de muitas pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino escolar e gerencial -. Só pessoas livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador.

Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes.

Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender.




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Texto retirado do site: http://www.eca.usp.br/prof/moran/uber.htm

José Manuel Moran
Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância

Texto que inspirou o capítulo primeiro do livro: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2006, p.11-65

Tecnologia e formação de professores: Rumo a uma pedagogia pós-moderna?

ARTIGO RETIRADO DO SITE: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301998000400005&tlng=en&lng=en&nrm=iso Acesso: 21092007 às 08:14.


Educação& Sociedade
Print ISSN 0101-7330
Educ. Soc. vol. 19 n. 65 Campinas Dec. 1998

Tecnologia e formação de professores: Rumo a uma pedagogia pós-moderna?
Maria Luiza Belloni*
RESUMO: A partir da discussão dos controvertidos conceitos de modernidade e pós-modernidade, este texto busca destacar os ideais e as conquistas da sociedade moderna em dois campos cada vez mais complementares no processo de socialização das novas gerações: a educação e a comunicação. Considerando a crescente importância do fenômeno comunicacional na sociedade atual, globalizada e tecnificada, a educação é chamada a constituir-se em espaço de mediação entre a criança e um meio ambiente povoado de máquinas cada vez mais "inteligentes". Tendo como eixo teórico a integração - necessária e inelutável - ao campo educacional, das novas tecnologias de comunicação e de informatização, a autora tenta delinear alguns caminhos para a formação de professores numa perspectiva inovadora, indispensável para a melhoria da qualidade da escola do presente e do futuro.
Palavras-chave: Formação de professores, tecnologia e educação, comunicação educacional, pós-modernidade, inovação pedagógica
Modernidade radical
Analisando correntes/teorias/movimentos ditos pós-modernos, Giddens parte da compreensão da natureza da própria modernidade, para concluir que o que chamamos "pós moderno" corresponde a um período em que "as conseqüências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes" (1991a, p. 13).
Para compreender como seria (ou deveria ser) a escola que corresponde a essa modernidade radical - e principalmente para compreender as relações entre educação e comunicação -, proponho ir buscar, nas raízes do projeto humanista da modernidade, a significação das duas maiores conquistas do homem moderno: o direito à educação (universal, igualitária, democrática) e o direito à comunicação (livre e plural).
Quando os filósofos iluministas pregavam os ideais da modernidade contra o antigo regime, uma revolução política já estava a caminho, no bojo da transformação econômica: um novo modo de produção e de apropriação da riqueza social se instalava na Europa Ocidental. O Estado democrático moderno, baseado no indivíduo emancipado (nem nobre nem servo) e moralmente autônomo, expressa e consolida novas lealdades, novos sistemas de legitimação política, mais adequados ao capitalismo emergente.
Um dos mais importantes ideais da modernidade é, sem dúvida, a igualdade civil entre todos os indivíduos dotados de razão, agora transformados em trabalhadores livres e cidadãos autônomos. Este era um ideal a construir, a conquistar: a emancipação política e a autonomia moral, que fazem de qualquer homem um indivíduo livre e um cidadão, precisavam ser cultivadas e difundidas para atingir a todos através da educação e da comunicação.
O direito à educação deveria ser universalizado atingindo a todas as crianças que deveriam ser alfabetizadas para ler os textos (sagrados e profanos) e ser treinadas para conhecer os saberes e as técnicas desenvolvidas pela humanidade.
O direito à comunicação corresponde à criação de um novo espaço público de discussão livre e "pública" (no sentido de transparente), identificado com o direito de expressão das opiniões do cidadão emancipado e esclarecido e com o dever de exigir a "publicização" (transparência) dos negócios do Estado (Belloni 1995b).
A universalização da educação, realizada pela escola pública e laica, é um projeto iluminista como o é a livre expressão de idéias, consagrada na imprensa livre e independente. Do mesmo modo, a sociedade moderna é um "projeto de saber".
O projeto humanista da modernidade acreditava no progresso infinito da humanidade, baseado na Razão e no Saber, apontando para a utopia da igualdade natural dos homens: aquela dada pela racionalidade. Deus ainda estava vivo, mas já não era tão necessário. O racionalismo (incluindo o direito natural) surgia como novo paradigma.
Uma nova ética - protestante - adequada ao espírito dos novos tempos - capitalista - estabelecia uma relação direta entre Deus e o indivíduo moralmente autônomo, dotado de razão capaz de ler e compreender a palavra sagrada e fazer sua escolha entre o bem e o mal, dispensando a intermediação do clero católico, os comunicadores do antigo regime. A nova ética de cidadãos livres e indivíduos autônomos não admite mais a interferência na privacidade (identificada com a família e o lar) representada pela exigência católica da confissão, por exemplo.
A modernidade corresponde, pois, a uma certa racionalidade (que os pensadores de Frankfurt qualificam como instrumental), a um desencantamento do mundo (que Weber afirma inelutável), e ao progresso espantoso das ciências experimentais e dos avanços tecnológicos. Tudo isso em conexão com uma organização racionalista da sociedade que culminaria com empresas eficientes e aparelhos estatais bem organizados (Canclini 1989, p. 22).
A modernidade pode também ser entendida como um "processo civilizatório". Muito mais ampla que um modo de produção, ela significa um novo paradigma, uma nova racionalidade, uma promessa de sociedade baseada em dois pilares potencialmente contraditórios: a regulação (constituída pelos princípios do Estado, do mercado e da comunidade) e a emancipação (com três lógicas de racionalidade: estética, moral e técnica) (Santos 1994, p. 31).
Pela sua complexidade interna, pela riqueza e diversidade das idéias novas que comporta e pela maneira como procura a articulação entre elas, o projeto da modernidade é um projeto ambicioso e revolucionário. As suas possibilidades são infinitas, mas por o serem, contemplam tanto o excesso das promessas como o déficit do seu cumprimento.(...) O excesso reside no próprio objetivo de vincular o pilar da regulação ao pilar da emancipação e de os vincular a ambos à concretização de objetivos práticos de racionalização global da vida coletiva e da vida individual. (idem, p. 71)
As promessas cumpridas em excesso revelam-se nas muitas formas do imenso progresso da ciência e da tecnologia e suas infinitas possibilidades de aplicação no mercado. Por outro lado, na esteira desse progresso, as promessas de emancipação acabaram se transformando no "lado cultural da regulação", um processo bem caracterizado por Gramsci com o conceito de hegemonia (ib., p. 78).
Na utopia iluminista, a educação desempenhava um papel social de grande importância, inédito na história da humanidade: coerente com a crença no progresso baseado no saber, o projeto da modernidade atribui à escola a função de socializar as novas gerações, formando os futuros cidadãos respeitadores das instituições sociais e do Estado. A educação moral e cívica deve formar igualmente o trabalhador e a elite, iguais na cidadania, porém cada grupo em sua função, todos contribuindo para o progresso da sociedade. A escola ganha status de instituição oficial, pública, mantida pelo Estado, tendo como principais características sua independência religiosa (laica e científica) e seu caráter universal (igual para todos). É a escola da cidadania.
Na prática, na passagem pelo século XIX da Revolução Industrial e do positivismo, a escola moderna evoluiu do ideal revolucionário de emancipação à consolidação de uma instituição eficiente na reprodução das desigualdades sociais (Bourdieu e Passeron 1970). Sem nunca deixar de ser um espaço de luta entre diferentes grupos sociais, a instituição escolar vai perdendo seu potencial emancipador, para ir se transformando em mecanismo eficaz de regulação.
Também no campo da comunicação, um novo agente social foi se formando: a opinião pública e seu porta-voz, a imprensa. O espaço público moderno vai se constituindo como locus de discussão livre sobre as regras da sociedade civil e do Estado: ali se discutem livremente as cotações do mercado, as novidades literárias e os abusos do poder político. A imprensa, a mídia da época tornada possível graças a um invento revolucionário (a prensa tipográfica de Gutemberg), vai desempenhar um papel extremamente importante nesse processo de formação do cidadão autônomo. Da mesma forma que no Nordeste de Paulo Freire nos anos 60, no século XVIII europeu saber ler era condição sine qua non da cidadania. No Terceiro Milênio, da cultura cibernética e da realidade virtual, ser cidadão exige saber digitar, até mesmo literalmente, na urna eletrônica.
A escola moderna, formadora do cidadão emancipado e autônomo, nascia sob o signo da palavra impressa que tinha uma conotação democrática e subversiva. A escola da pós-modernidade, do futuro, terá que formar o cidadão capaz de "ler e escrever" em todas as novas linguagens do universo informacional em que ele está imerso.
... ou pós-modernidade?
Ao fim do século XX, no limiar do novo milênio, 200 anos depois da Revolução Francesa, aqueles ideais do Iluminismo (sobretudo quando vistos desde o hemisfério sul) parecem ter-se "desmanchado no ar" sem nunca terem sido realmente "sólidos" (Berman 1988).
Aos ideais universais e às grandes teorias sociais opõem-se agora valores heteróclitos e narrativas fragmentadas; o espaço público dos salões e dos cafés burgueses é substituído pelo simulacro espetacular repetido incessantemente pelas diferentes mídias. Ao público esclarecido se opõe a massa indiferenciada de consumidores, agora em escala planetária.
Os grandes movimentos intelectuais e políticos (Iluminismo, liberalismo, positivismo, socialismo) são agora relegados ao plano de simples "metarrelatos" (ou metanarrativas) intrinsecamente diferentes entre si, porém com a qualidade comum de não terem mais nenhuma hegemonia. A proclamação do fim da história faz parte dessa retórica, como uma expressão do neoliberalismo radical, que apresenta seu modelo de mercado global para todos, para sempre, como o ponto de chegada do projeto iluminista.
No universo fragmentado da cidade pós-moderna, todas as narrativas se equivalem; não há valores universais que embasariam um consenso qualquer: o relativismo culturalista aponta para a fragmentação infinita que acaba por uniformizar tudo na lógica da mercadoria.
A escola é agora apenas mais uma entre as muitas agências especializadas na produção e na disseminação da cultura. Em concorrência com as diferentes mídias, a escola tende a perder terreno e prestígio no processo mais geral de transmissão da cultura e particularmente no processo de socialização das novas gerações, que é sua função específica. Num mundo cada vez mais "aberto" e povoado de máquinas que lidam com o saber e com o imaginário, a escola apega-se ainda aos espaços e tempos "fechados" do prédio, da sala de aula, do livro didático, dos conteúdos curriculares extensivos, defendendo-se da inovação.
No campo da comunicação, duas tendências aparentemente contraditórias delineiam-se claramente: de um lado, uma extrema concentração da produção globalizada de bens culturais com base na publicidade; de outro, uma fragmentação cada vez mais acentuada de textos, máquinas, meios, mitos, linguagens e públicos que se mesclam, se adaptam e transformam as diversidades culturais.
A pós-modernidade é algo fugidio, difícil de cernir. Podemos considerar a pós-modernidade como uma certa "dominante cultural", típica do capitalismo tardio, disseminada por todo o planeta (Jameson); ou como "novo paradigma" do conhecimento e o fim dos "metarrelatos" (Lyotard); ou ainda simplesmente como um "estilo" cultural, compreendendo aspectos estéticos e de consumo. Em qualquer dessas abordagens estão presentes as idéias de fragmentação, simulacro (ou pastiche), de multiplicidade (Yudice 1995).
Habermas considera, no entanto, que o que se convencionou chamar pós-modernidade é um impasse político-cultural (ou uma transição difícil) na realização do projeto emancipador, ainda incompleto, da modernidade, que tem como força propulsora uma nova "racionalidade comunicativa democratizadora", que se sobreporá à racionalidade instrumental (idem, p.79).
Já para Boaventura de Souza Santos, "o projeto não pode ser concluído em termos modernos sob pena de nos mantermos prisioneiros da mega-armadilha que a modernidade nos preparou: a transformação incessante das energias emancipatórias em energias regulatórias" (Santos 1994, p. 84).
Nesse contexto de imprecisão e insegurança conceitual, a questão fundamental para compreender o papel da educação na pós-modernidade continua posta e ganha novo significado: pode-se esperar que a cultura (incluindo educação e comunicação) tenha ainda um potencial emancipador? Ou a pós-modernidade constitui mais um metarrelato de caráter conformista, a legitimar um capitalismo globalizado, "tardio" e perverso? Uma versão estético-expressiva do "cada-um-por-si" do neoliberalismo?
Essa nova cultura "pós-moderna" constitui o estilo de vida próprio do capitalismo contemporâneo e toma formas diferentes segundo as socioculturas. Embora disseminado por todo o mundo dito "civilizado", isto é, atingível pela televisão via satélite, o estilo pós-moderno apresenta uma diversidade enorme de facetas que espelham as realidades locais. Nos Estados Unidos, por exemplo, a proposta pós-moderna gerou um discurso ideológico e um movimento social que tomaram uma forma um tanto puritana, típica da cultura americana racionalizada, pragmática e individualista: o multiculturalismo politicamente correto.
Já na América Latina, no Brasil e no México, por exemplo, temos culturas híbridas, nas quais coexistem, adaptam-se e transformam-se muitos elementos da modernidade, sentimentos e lealdades pré-modernos e situações comunicacionais de alta tecnicidade e de caráter "pós-moderno" (Canclini 1989).
Nessas culturas híbridas, nas quais o moderno se integra com o pré e o pós-moderno, o "realismo mágico", por exemplo, é um realismo tout court, a realidade é que é mágica, absurda do ponto de vista da racionalidade ocidental que define o paradigma dominante do conhecimento. Nessas culturas híbridas, as narrativas antigas e arquetípicas adaptam-se às linguagens audiovisuais e aos estilos pós-modernos, configurando mensagens que nada mais têm a ver com os mitos originais de que são referências, senão seu poder de persuasão: assim as novelas, os folhetins diversos, a música, o cinema. Os limites entre a cultura erudita e a popular foram confundidos pela cultura de massa, onde tudo se mistura, se fragmenta e se repete como numa sala de espelhos.
O caráter heterogêneo das sociedades latino-americanas fez surgirem "formas descontínuas, alternativas e híbridas que desafiaram a hegemonia do grande relato da modernidade", caracterizando uma espécie de pós-modernidade avant la lettre (Yudice 1995, p. 64).
Há, porém, uma característica comum a todas essas mensagens fragmentadas e sem coerência: justamente o espelho - os sistemas de mídia que multiplicam ao infinito qualquer mensagem (obra de arte erudita, manifestação popular ou informação), esvaziando-a de seu significado específico e privando-a de sua autenticidade, ao transformá-la em produto midiático, subordinado à lógica da produção globalizada. Um dos fenômenos mais interessantes quanto a essas culturas híbridas, de que nos fala Canclini, é a importância, para sua constituição, do avanço incrível das técnicas de comunicação radicalizando os conceitos modernos de tempo e de espaço, mesclando o rural e o urbano, redimensionando os modos de ser e de apreender o mundo, transformando a humanidade e o indivíduo.
Cabe lembrar que a distância entre espaço e tempo é típica da modernidade, sendo seu emblema o relógio mecânico, a máquina moderna que permitiu separar o tempo (tornado abstrato) e o lugar (que até então era a referência para o tempo). A invenção do relógio foi fundamental para o cálculo do valor do trabalho industrial assalariado, como todos sabemos, que assim se autonomiza (separa) do ciclo natural do tempo, válido na agricultura (Giddens 1991a, p. 25). As redes informáticas e os satélites de comunicação estão operando mais um redimensionamento de nossas noções de tempo e de espaço. Outros autores, trabalhando no campo do ensino a distância e inspirados em Giddens, consideram que a globalização representa uma "nova consciência mundial trazida pela compressão do tempo e do espaço", o que teria profundas implicações para o ensino a distância, concebido em termos mundiais (Stevens 1996 e Edwards 1994).
Nesse quadro de incertezas, neste fim de século cheio de riscos (Giddens 1991a e 1991b) e de redefinições, atribuir ao estilo cultural pós-moderno um caráter emancipatório (como a ilusão multiculturalista) parece-nos otimismo ingênuo, pois esquece que a base econômica ainda é capitalista e sua ideologia neoliberal ainda mantém a hegemonia em quase todo o planeta. Parece difícil saber, hoje, se as culturas híbridas dos países periféricos (frutos do casamento de conveniência entre as culturas populares locais e os sistemas de mídia) encerram um potencial emancipador, configurando uma "pós-modernidade de resistência" (Santos 1994, p. 91), ou se o discurso pós-moderno consolida a hegemonia de uma cultura mundializada que tende a mascarar a importância do avanço tecnológico para o aprofundamento das desigualdades sociais e regionais.
A mídia, que no século XVIII surgiu como um instrumento de emancipação, tornou-se, no século XX, um meio eficiente de dominação e controle social, em que pese a fragmentação pós-moderna de mensagens e públicos. Seu uso emancipatório é eventual e episódico. Embora seja importante ressaltar que a "explosão da realidade midiática e informacional torna possível uma competência democrática mais alargada" (Santos, id., p. 83), a eficácia política e social dessa competência resta a ser determinada.
Quanto à educação, teorias baseadas em modelos inspirados no "paradigma fordista", dominante no mundo capitalista desde as primeiras décadas do século XX, tiveram grande impacto sobre políticas e práticas educacionais, principalmente no período após a Segunda Guerra Mundial. É importante lembrar que, nesse período, a oferta de serviços públicos pelo Estado cresceu muito e se organizou segunda a lógica fordista (Campion e Renner 1992). O crescimento da demanda de educação pública, especialmente de 1º e 2º graus, criou as condições que estimulam e legitimam concepções industrialistas de educação, baseadas em teorias econômicas: a democratização do acesso à educação, por analogia aos conceitos de produção industrial de massa, mercado de consumo de massa e economia de escala, passa a ser vista como educação de massa voltada para o mercado de trabalho. As atuais contestações desse paradigma, ainda bastante dominante, agrupadas nos conceitos de "neofordismo e pós-fordismo, propõem para a educação as mesmas mudanças que estão acontecendo no mundo da economia e do trabalho, conseqüências da globalização econômica e do avanço tecnológico sem precedentes que obriga as empresas a se adaptarem: flexibilização (currículos e métodos), descentralização (inter e multiculturalidades), maior responsabilização do trabalhador melhor habilitado" (Campion e Renner, op. cit. e Evans 1995).
Nos países periféricos, a escola está perdida em meio a essas culturas híbridas de mensagens pré-modernas, disseminadas em suportes high tech; de políticas arcaicas propostas em discursos inovadores produzidos por marketings eficientes. Baseada no discurso escrito, nos valores seguros do erudito e no papel firme e insubstituível da professora, a escola no Brasil abriu mão, sem os realizar, dos ideais modernos - conhecer para se emancipar - e tentou ser apenas e diretamente instrumental ao mercado. Restringindo-se ao treinamento do trabalhador, a reforma da educação realizada nos anos 70 evitou formar o cidadão, numa perspectiva tecnocrática cuja eficácia foi medíocre.
O campo da educação confronta-se agora com mais uma crise de paradigmas: ainda não temos biblioteca e já temos computador. Ainda não aprendemos a lidar com a TV e já chega a multimídia. Como recuperar o tempo perdido? Pela Internet?
Escola e cidadania...
Poderíamos sintetizar o longo relato acima dizendo que a escola do futuro tem de realizar a promessa moderna, iluminista, de emancipação, integrando-se ao universo da cultura pós-moderna: isso significa escola para todos com qualidade, isto é, com tecnologia e com educação para o uso das mídias.
Do ponto de vista da construção do conhecimento, isso significa antes de mais nada a integração de dois campos culturais: a educação e a comunicação, ambas estruturadas como espaços de luta entre grupos e interesses contraditórios, ambas importantes no processo de criação e transmissão da cultura. No campo da educação e no da comunicação, agentes e instituições se confrontam apropriando-se desigualmente do capital simbólico específico de cada um deles (Bourdieu 1994).
No Brasil, a história desses dois campos mostra trajetórias bem diferentes. No campo da comunicação, os principais atores são privados e o processo incorpora rapidamente as inovações técnicas. O papel do Estado tem sido mais próximo ao de cliente preferencial e generoso do que ao de instância de regulação. No campo da educação, ao contrário, os atores mais importantes são públicos, os investimentos, insuficientes e o processo tende a resistir à mudança, especialmente à incorporação de novas técnicas.
Enquanto a escola, pobre e abandonada, vive uma crise que não é só paradigmática, mas também de identidade e de auto-estima, perplexa diante da multiplicidade e da complexidade de suas novas tarefas, as mídias triunfantes invadem os espaços mais reservados do cotidiano, tornando-se extensões naturais de nossos sentidos, concretizando assim as profecias de McLuhan.
O capital cultural com melhor valor no mercado das trocas simbólicas está mais no campo da comunicação, seja no mundo real dos negócios (onde 30 segundos de publicidade podem valer o salário de dez mil professores), seja no mundo simbólico do imaginário popular, especialmente na percepção dos jovens, que sonham com a celebridade aparentemente fácil ofertada pelas mídias.
Na intersecção desses dois campos, ocorre o processo de socialização das novas gerações, processo extremamente complexo que integra de modo interativo todos os elementos do meio ambiente da criança. Nesse processo atuam muitas instituições: a família, a escola e a Igreja eram as principais. Agora atuam também nesse processo, de modo voluntário e insistente, inúmeras empresas produtoras e distribuidoras de "bens culturais": os sistemas de mídia (Belloni 1992 e 1994).
A escola ainda não conseguiu integrar esses bens culturais produzidos pelas mídias, e que são consumidos pela maioria das crianças, consumo este desigualmente distribuído entre grupos sociais. A escola de qualidade terá que integrar as novas tecnologias de comunicação de modo eficiente e crítico, sem perder de vista os ideais humanistas da modernidade (isto é, evitando aquele velho mecanismo que consiste em jogar fora a criança com a água do banho), mostrando-se capaz de colocar as tecnologias a serviço do sujeito da educação - o cidadão livre -, e não a educação a serviço das exigências técnicas do mercado de trabalho.
O campo da comunicação é um campo cultural que cresce em importância e visibilidade no mercado globalizado e está caracterizado pelo uso intensivo de meios tecnológicos de transmissão de informações. Esse campo se estrutura em sistemas de mídia que preenchem diferentes funções: ideológica, informativa, de entretenimento, cognitiva etc. É no cumprimento eficiente dessas funções que as mídias vão penetrando e interferindo na ação de outras instituições em outros campos, como a família, invadida pela moral das telenovelas e dos desenhos animados, ou a escola, que ainda não sabe lidar com suas mensagens e linguagens. Para não falar das religiões que tiveram que se adaptar a elas.
O campo da educação enfrenta, pois, mais este desafio: o de constituir-se em espaço de mediação entre a criança e esse meio ambiente tecnificado e povoado de máquinas que lidam com a mente e o imaginário. Cabe à escola não só assegurar a democratização do acesso aos meios técnicos de comunicação os mais sofisticados, mas ir além e estimular, dar condições, preparar as novas gerações para a apropriação ativa e crítica dessas novas tecnologias. É função da educação formar cidadãos livres e autônomos, sujeitos do processo educacional: professores e estudantes identificados com seu novo papel de pesquisadores, num mundo cada vez mais informacional e informatizado.
Isso exige transformações radicais no campo da educação: será preciso reavaliar teorias e reinventar estratégias e práticas. À universidade cabe investir na produção acadêmica de conhecimento novo e inovador, repensar aspectos teóricos e metodológicos e integrar efetivamente o ensino e a pesquisa.
A escola do presente e do futuro, aquela que todos queremos, tem de resgatar os ideais da modernidade clássica transformando-os para adaptá-los à modernidade radical, às infinitas possibilidades ofertadas pelas tecnologias de comunicação e de informação. Somente com a modernização radical do campo educacional - que vai da pesquisa acadêmica às estratégias políticas - poderá a escola cumprir sua função social: a de formar o cidadão autônomo, competente técnica e politicamente.

...comunicação e tecnologia
Em primeiro lugar, será preciso redefinir o papel do educador: será ele um engenheiro do conhecimento, misto de programador e artista, tutor a distância ou em presença, facilitador ou orientador de uma aprendizagem baseada em materiais multimidiáticos, ou um pesquisador, ator, com seus alunos, na construção do conhecimento? A complexidade de suas tarefas exige uma formação inicial e continuada totalmente nova. Como formar o professor que a escola do futuro exige? Na formação do professor do futuro está em jogo o futuro do professor, se me é permitido o trocadilho.
As respostas a essa pergunta crucial são muitas e estão longe de ser unânimes, mas parecem sinalizar uma tendência a se agruparem em torno da idéia de reflexão. Esse conceito amplo e fluido parece ser o mais utilizado por pesquisadores e formadores para referir novas tendências na formação de professores. Muitas concepções do professor e do ensino podem ser englobadas por essa concepção mais ampla: o professor que experimenta, o professor pesquisador na ação, o professor como pedagogo radical, e muitas outras. Todas essas novas tendências se declaram reflexivas (Garcia 1992, p. 59).
Não obstante a grande diversidade de propostas teóricas e metodológicas e uma certa "dispersão semântica", é possível identificar dois componentes comuns a essas novas propostas de formação de professores: por um lado, a idéia de pesquisa e de reflexão constante sobre a própria prática pedagógica (desde o construtivismo, entendida ela própria como um processo de pesquisa para construção do conhecimento), e, por outro, a convicção de que será fundamental estabelecer uma nova relação mais horizontal (menos verticalizada e autoritária) entre professores e alunos, entendidos como parceiros diferenciados no processo educativo (idem, p. 62).
Em tese, essas concepções seriam bastante propícias à integração, dos meios técnicos de comunicação e de informática, aos processos educacionais, uma vez que a reflexão sobre a própria prática "conduz necessariamente à criação de um conhecimento específico e ligado à ação, que só pode ser adquirido através do contato com a prática, pois trata-se de um conhecimento tácito, pessoal e não sistemático" (idem, p. 60).
Embora se possa considerar como autocomplacência de uma categoria profissional em crise de auto-estima, aquela velha atitude que consiste em evitar as novas tecnologias sob o pretexto de que elas assumiriam o papel do professor, desumanizando o processo de educação, também é preciso lembrar que sem uma formação adequada não se pode esperar que o professor resolva sozinho um problema cuja complexidade o ultrapassa. Ao contrário, o uso adequado das incríveis potencialidades oferecidas por aqueles meios representaria para o professor uma libertação das tarefas de "repetidor" que ocupam a maior parte de seu tempo, deixando-o livre para desempenhar múltiplos papéis mais criativos e mais interessantes (e, evidentemente, mais adequados aos tempos que correm).
Segundo Perriault, o papel do professor é "chamado a evoluir":
Quando estiver rodeado de mídias, ele não mais veiculará todo o conhecimento mas ajudará os alunos a assimilá-lo bem. Responderá às questões difíceis. No ensino a distância nota-se a importância crescente do telefone: os inscritos chamam o professor para `depanagens'. (Perriault, 1996, p. 82)
Do ponto de vista do macroplanejamento, é ilusório pensar que se fará economia de orçamento com o uso de tecnologias ou com o ensino a distância. Ao contrário do que se tem muitas vezes ouvido autoridades do setor declararem, a integração das novas tecnologias à educação não significará economia de custos: o professor terá que ser valorizado e sua formação inicial e continuada terá que ser repensada, além dos investimentos em equipamentos, é claro. Mas certamente o investimento em formação de professores com tecnologias resultará em aumento de produtividade dos sistemas e, portanto, a médio e longo prazo significará maior rentabilidade, evitando não só o desperdício com o fracasso escolar, como as frustrações decorrentes dele e da inadequação às demandas sociais.
O "método" mais geral da formação de professores sendo a reflexão, resta ainda definir o que seria essa formação. Quais critérios utilizar? Um elenco de "destrezas" necessárias à prática de um "ensino reflexivo" (Garcia, op.cit., p. 61)? Ou a reflexão sobre experiências inovadoras de utilização de meios técnicos para ir construindo novas metodologias, novos materiais, por exemplo?
Uma nova pedagogia já está sendo inventada que concebe as tecnologias como meios, linguagens ou fundamentos das metodologias e técnicas de ensino, sem esquecer de considerá-las como objeto de estudo e reflexão, assegurando sua integração crítica e reflexiva aos processos educacionais. Há pesquisadores que tendem a considerar a tecnologia como o fundamento dessa nova pedagogia (Pretto 1996). Mas nesse caso não correríamos o risco de vê-la submetida à lógica instrumental da produção industrial? Será possível escapar dessa lógica e assegurar uma autonomia relativa ao campo da educação?
Parece-me mais apropriado dizer que o fundamento dessa nova pedagogia tem de ser a pesquisa, como mecanismo central do processo de construção do conhecimento, do qual professores e alunos participem criativamente, redefinindo radicalmente os papéis e as relações entre eles e potencializando de modo inédito a construção coletiva do conhecimento.
A nova pedagogia deve permitir a apropriação dos saberes e das técnicas, incorporando-os à escola de modo a valorizar a cultura dos alunos e a criar oportunidades para que todas as crianças tenham acesso a esses meios de comunicação. Humanizar as máquinas de comunicar, dominá-las, sujeitando-as aos princípios emancipadores da educação, eis aí o desafio que está posto.
Em um outro momento afirmei que o confronto escola e televisão era, mais que nada, uma questão de linguagem (Belloni 1995a). Queria então enfatizar o caráter instrumental da tecnologia - que pode estar a serviço do "bem" ou do "mal" - e ressaltar que o meio é a mensagem e que as linguagens (inclusive a linguagem audiovisual e a informática) são fundamentos do pensamento e estruturam o conhecimento. Gostaria agora de destacar alguns aspectos técnicos dessa questão, sem perder de vista as variáveis externas ao campo da educação as quais em grande parte o determinam, embora não as integrando diretamente no campo de análise.
Como se apropriar dessas linguagens, dominar esses meios técnicos, integrando-os ao cotidiano da escola? Não há receitas prontas, mas alguns caminhos óbvios já estão delineados. Os tópicos que se seguem são sugestões do que poderia ser feito para a formação de professores capazes de iniciar esse processo de atualização que levaria a escola a realizar as promessas da modernidade num estilo pós-moderno. Eles representam uma receita técnica um tanto óbvia, mas tecnocrática, no sentido em que não são consideradas as determinantes sociais, políticas e econômicas.
• Produzir conhecimento
Em primeiro lugar, será preciso conhecer o assunto, produzir conhecimento novo, buscando pôr em evidência todos os aspectos da questão. Abre-se um novo e vasto campo de pesquisa que diz respeito aos "modos de aprendizagem mediatizada" (Perriault 1996, p. 241). Esse novo campo, necessariamente interdisciplinar, tem de considerar os dois principais componentes dessa nova pedagogia: a utilização cada vez maior das tecnologias de produção, estocagem e transmissão de informações, por um lado, e, por outro, o redimensionamento do papel do professor. Papel este que, ao que tudo indica, tende a ser cada vez mais mediatizado. O professor duplamente mediatizado: como produtor de mensagens inscritas em meios tecnológicos, destinadas a estudantes a distância, e como usuário ativo e crítico e mediador entre esses meios e os alunos.
Os aspectos cognitivos, especialmente aqueles relacionados com a "autodidaxia", por exemplo, são de extrema relevância para se compreender como funciona a auto-aprendizagem numa situação de ensino mediatizado. Os novos "modos de aprender" são ainda uma incógnita para a maioria dos professores.
A pesquisa sobre linguagens e potencialidades comunicacionais dos diferentes meios tecnológicos deve avançar nas tecnicalidades sem perder de vista os objetivos ou fins da ação educativa: é fundamental encarar as tecnologias como ferramentas, como meios, o que inclui as máquinas, mas também os programas, e sobretudo os saberes, instrumentos intelectuais e verbais (Trindade 1992). A introdução da imagem e seus suportes técnicos (a tela da televisão e do computador) no universo da palavra escrita suscita muitas interrogações ainda sem resposta. Como utilizar a imagem como fonte de saber? Como integrar esse novo conhecimento adquirido pelos jovens diante das muitas telinhas? Não o conhecimento de um determinado conteúdo, mas a competência específica de leitura de imagens e sinais eletrônicos?
Será preciso investir na análise, na seleção e na avaliação de experiências e materiais educacionais, sem deixar de promover a elaboração e a experienciação de estratégias e materiais inovadores.
Para desenvolver a pesquisa nessa área, o caminho não é simples: seria necessário um esforço no sentido de estimular a criação e a consolidação de linhas de pesquisa, integrando o ensino de pós-graduação e o de graduação, as vertentes teóricas e práticas, e trabalhar numa perspectiva interdisciplinar, integrando notadamente os campos da comunicação e da educação.
Infelizmente, esse aspecto é extremamente pouco desenvolvido em nossas universidades: o tema está longe de ser importante na produção científica do campo da educação e a integração entre graduação e pós-graduação é ainda bastante rara em nossos cursos de pedagogia e licenciaturas.
• Criar laboratórios
No contexto brasileiro, o desenvolvimento desse novo campo de pesquisa poderia acontecer nas universidades, com a instalação de laboratórios de multimeios que funcionassem como laboratórios de ensino e de pesquisa e como campo de estágio para estudantes de graduação e pós-graduação da área da educação, mas também de comunicação, de informática, de artes, letras e muitas outras.
As disciplinas de formação pedagógica (licenciaturas e pedagogia) poderiam ser desenvolvidas de modo integrado e interdisciplinar, ligadas aos laboratórios de ensino, equipados para a utilização e a produção de materiais pedagógicos. Os cursos de pós-graduação deveriam estar integrados com a graduação, tanto na realização de pesquisas quanto na prática docente ou monitoria em laboratório. Essa integração é condição necessária para o sucesso de qualquer experiência de modernização na educação: é aí que se pode produzir o conhecimento inovador, sob a forma de estratégias de utilização de materiais pedagógicos.
Num registro ideal, poderíamos imaginar a criação de centros de recursos públicos, a exemplo das maisons du savoir propostas por Perriault, midiatecas completas que coloquem à disposição dos usuários toda a riqueza de materiais e máquinas, permitindo a estudantes e professores realizarem suas pesquisas.
Serão imprescindíveis a interdisciplinaridade e a colaboração de profissionais de outros campos que virão necessariamente contribuir com o campo da educação, profissionais das áreas de comunicação e informática, principalmente mas não só, que trabalharão de modo integrado aos profissionais do campo da educação. Novas funções estão surgindo que exigem novas definições profissionais e de formação.
• Inventar metodologias de ensino
Com base em estratégias integradoras e interdisciplinares, não apenas integrar "disciplinas", mas desenvolver ações integradas entre os diferentes cursos de formação de professores e especialistas que culminem em estágios que levem para as escolas propostas inovadoras, integradas, orgânicas, propostas de pesquisa-ação que revolucionem o cotidiano escolar. Um primeiro passo importante pode ser dado com propostas de educação para a mídia que introduzam na escola a discussão sobre o tema.
É importante lembrar que a tendência atual é de uma maior mediatização do processo de educação (a exemplo e na esteira do que já ocorreu no processo de comunicação e em muitas outras esferas sociais) em direção ao estabelecimento de formas híbridas de educação e de formação continuada (mediatização do ensino presencial, ensino a distância, utilização de redes informáticas interativas etc.).
• Investir na produção de materiais
A ênfase deveria ser colocada no uso de materiais pedagógicos em suportes multimidiáticos (escrito, vídeo, áudio, multimídia) e nos equipamentos necessários para sua realização e leitura: é preciso equipar laboratórios e criar midiatecas, possibilitando aos estudantes a operação dos equipamentos e o contato com materiais pedagógicos em suportes tecnológicos.
É preciso desmitificar a tecnologia. O vídeo e a televisão são velhas tecnologias que não oferecem nenhum problema de operação. Há que aprender a avaliar, selecionar, criar estratégias de utilização. Quanto à informática, ela está se tornando uma linguagem dominante, e seu casamento com o vídeo e o texto, na multimídia, engendra a mídia do futuro. É preciso também considerar com atenção o seguinte conselho:
A elegância é uma qualidade estética feita de simplicidade e de graça que se presta a certas formas. Esse ponto de vista distancia o olhar sobre a tecnologia da educação, ajudando a atualizar o julgamento que se faz dela. Essa atualização é urgente pois uma autodidaxia importante se desenvolve desde há alguns anos nos jovens por meio das mídias. (Perriault 1996, p. 231)
Faz parte dos resultados dessa "autodidaxia" não apenas a desenvoltura com que os jovens manipulam os jogos eletrônicos, mas também a habilidade para julgar a qualidade técnica e a estética de qualquer material audiovisual. O que implica e exige materiais de boa qualidade didática (metodologias adequadas), mas também técnica e estética.
Segundo esse mesmo autor, a evolução do uso das mídias para a educação mostra tendências divergentes, que podem ser agrupadas em duas categorias básicas:
• mídias que põem em comunicação um ser humano e uma máquina, da qual ele extrai informações que transforma em conhecimento;
• mídias que ligam seres humanos entre si, para que eles troquem informações e juntos construam conhecimentos.
Na primeira categoria temos o ensino assistido pelo computador, os livros, vídeos e CD-ROMs, por exemplo; e na segunda temos as trocas telefônicas, consultas ao tutor via telemática, alguns usos das redes informáticas (Internet), videoconferências interativas etc.
Essa evolução estaria, segundo Perriault, mostrando um desenvolvimento mais rápido nos usos de meios da segunda categoria, o que sinalizaria para utilizações mais horizontais e democráticas - e humanizadas - que as possibilitadas pelas "máquinas de ensinar" skinnerianas.
Sem dúvida, as tecnologias podem ser novos e muito úteis meios de construir e difundir conhecimentos sem risco de desumanizar o ser humano. Tudo depende do modo como as utilizamos: se nos apropriamos de seu potencial pedagógico e comunicacional e as colocamos a serviço do homem ou se, ao contrário, nos deixamos dominar por elas, transformando-nos em consumidores de gadgets concebidos para um mercado de massa planetário.


Technology and teacher training: Towards a post-modern pedagogy?
ABSTRACT: Starting from a discussion on the controversial concepts of modernity and post-modernity, this text is an attempt to highlight the ideals and achievements of modern society in two increasingly complementary areas in the socialisation process of new generations: those of education and communication. Considering the growing importance of the communicational phenomenon in our globalised and technified contemporary society, education is required to serve as mediator between the child and an environment populated by ever more "intelligent" machines.
Using as theoretical basis the necessary and inevitable integration of new information and communication technologies into education field, the author attempts to mark out some paths towards an innovative view of teacher training which is indispensable for an improved schooling today and tomorrow.

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* Professora do Depto. de Metodologia de Ensino, Centro de Ciências da Educação, UFSC.